terça-feira, 14 de agosto de 2012

1991


Oh,a dama está vindo do norte do país

Trazendo a bagagem do sul

Com todo o sotaque do leste

Ela vem para o centro do nada

Ah ! Minha querida amiga

Não deixe se levar

Cuidado com as lastimas do ultimo verão

Mas não se conforte em ficar

Controle apenas seu olhar no ultimo vagão

Sim, agora não mais que antes

Solte teus cabelos,

Do fogo ao gelo.

Sim,agora e depois,como antes.

Não baby, não chore hoje

Não baby,não sorria também

(O tempo pode te matar esta noite)

Sem nunca chegar,amor

Sem nunca ir,meu bem

Sem dizer não irá perder

(Mas o tempo pode te roubar esta noite)

Então querida,

Vá ao topo e ao fundo!

Tenha em si o sopro,

O mundo!

( lembra,o tempo pode te perder esta noite)

Oh ,mas não termine a viajem enquanto ainda é tarde

De quando em quando é necessário se jogar à margem.

( O tempo pode te esquecer,sem males)

A dama do norte,

Vestindo o azar e a sorte

Vem logo ali,(sem tempo), está aqui.

Já consigo ouvir,

E você, pode ao menos sentir?

fool, so fool.

Minha mente constantemente invade meu peito
E leva consigo todo mal, qualquer feito.
Chego a sentir a vida,
Estarei eu, enlouquecendo?
Consigo tragar uma nova essência
Continuo dopada ou este é outro mero argumento?
De vez em quando visito a morte
Um vazio estonteante cega-me,tenho sorte
E mais uma vez planejo,rasgo conclusões
Sem qualquer fundamento,
Terei de exterminar velhas emoções?

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Descaso duma nota musical sem nenhuma melodia sentimental, muito menos cordial



Daqui vejo uma cadeira de balanço
Ela está logo ali
Daqui ouço uma voz que já conheço
Ela vem se aproximando, por mim?

Dali compreendo o porquê de não estar aqui
Ela assobia as infâmias tanto vividas
Dali observoeu sem sina, voando até sucumbir
Ela reflete o vento assoprando um mar de vindas só com  partidas

Estou abrindo um espaço entre vida e morte
Ela disfarça, sem dó, sem lá,
Estou cá com veraneios e fatias de sorte
Ela vence o sol, lançando-lhe um aceno solene.

Componho uma nova distorção
Ela chega, provocando e me provando
Recomponho num segundo uma velha confusão
Ela vai, contudo aos poucos, levantando, se levando

Vejo o que vejo sem saber se estou vendo
Ela contraí o cenho, diz meu nome , nua, nobre, dorme e some!
Sonho com um sonho dentro de outro sonho sonhado,
Estou acordado, atordoado, anestesiado, mas sim, por fim, acordado.

Ela se retém, à brisa da tarde, e se mantém
Ahh! Quanto desdém,
Pronuncio sem voz, e ela sabe, já me tem.

Sobre uma época que usei um vestido bege ou xadrez



 Entrou assim, pedindo licença, sem esperar resposta.
Entrou e sentou no canto do sofá,
o sapato em cima do tapete, tapete um pouco empoeirado.

Ofereci um café,
aceitou.

Ofereci uma longa e detalhada narração sobre a vida,
ouviu e foi se aconchegando.

Perguntou  sobre o porquê de uma lágrima encontrada abaixo do lustre, expliquei ter sido  o vento o responsável por dissolver certos pesares.

A tarde caía e assistimos a um filme antigo, parecia novo e era um dos nossos favoritos.
Tal como a neve, sempre retornávamos serenos à superfície do cerne.

Pensei por um tempo, o silencio reluzia, por ora feliz.
Pensou por um tempo, o silencio ancorava, mais uma vez reles.

Revelei algo meio óbvio, sorriu e levantou os olhos.

Olhou e decorou cada sorriso,
aos poucos deve ter ansiado pelos risos e olhares também.

Caminhou pelo apartamento delicadamente,
como se tudo fosse de papel ou areia.

Caminhei pelos cômodos lentamente,
como se tudo fosse uma fotografia ou uma pintura.

Pusemo-nos um ao lado do outro e demos as mãos,
não houve promessas nem declarações.

Fitei o céu, o sol.
Observou as nuvens, o céu.

A vitrola lançava-me uma benção,
a máquina de escrever lampejava qualquer descontentamento.

Foi até a cozinha e acendeu um cigarro.
Fui à sacada e bebi outro gole de água.

Fui à cozinha e joguei migalhas fora.
Foi à sacada e desligou o mundo.

Dormiu em mim.
Dormi sem roupa.

Dancei um blues.
Dançou um blues.

Contou-me seus medos e sonhos,
ouvi e sorrateiramente fiz sentido.

Como era de se esperar,
outro acaso bateu na janela.

Como qualquer um imaginaria,
o destino gostou do caminho e repousou sobre ele.

Descobriu-me dum fevereiro desses.
Descobri-o duma noite qualquer.

Enfim saiu, pedindo licença, esperando resposta.

Saiu assim, pela porta da frente, agradecendo o café.
Foi embora, mas ficou.

Olhei para dentro e não restava muito.
Entrei para fora, eu precisava de um emprego, nada mais por agora.