terça-feira, 23 de abril de 2013

É isso, por enquanto


Eu parei de escrever porque achei que ele tinha levado minha inspiração junto.
Eu tentei parar porque não sabia onde meu coração tinha se enfiado.
Eu não acreditei em  mais nem um pulsar por debaixo da pele.
Foi longa demais a demora em deixa-lo de vez.
Foi cômica a profundidade com que  deixei exposta  num olhar.
Eu vivi meio assim, sem diluir meus pesares, sem ter a noção de outro mundo.
Mas sabe como é, uma hora as imagens param de ecoar e ressoar por dentro
e o mundo fica mais nítido.
Uma hora o universo descongela e seu peito sente a magia do simples farfalhar do vento.
Chega um momento do seu dia, da sua terça-feira em que seu espírito se aquece e você sente
seu estômago rodopiar com um festival de calafrios.
Existe um ponto em que a gente se vê no pico de uma cordilheira e tem a certeza que sempre soube voar.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

I miss you

Os olhos do meu avô eram clarinhos
Eram pequenos e ternos
Conversávamos por horas a fio
Sentados naquela mesma pedra, contemplando
As nuances do céu, a calmaria do rio.

Os olhos do meu avô eram verdes
Eram calmos e concentrados
Aprendi com o decorrer dos invernos
à encontrar as lenhas certas para uma fogueira
à construir paredes, à amar a Gomeira.

Os olhos do meu avô eram acinzentados
Eram distantes e trágicos
E num dia, antes de partir
Falamos sobre as desventuras
O teor dos dias, o ato certo e imprevisto do florir.

Os olhos do meu avô eram completamente azuis
Eram um berço, eram infindos, sorriam
Hoje me pus à janela fitando o frio
- havia ali o traço de suas mãos, o rouco respirar -
Que certa vez me revelou,
Ser o silêncio  um vital e sorrateiro emplasto,
responsável por manter o amor de um jeito simples, intacto.