Os olhos do meu avô eram clarinhos
Eram pequenos e ternos
Conversávamos por horas a fio
Sentados naquela mesma pedra, contemplando
As nuances do céu, a calmaria do rio.
Os olhos do meu avô eram verdes
Eram calmos e concentrados
Aprendi com o decorrer dos invernos
à encontrar as lenhas certas para uma fogueira
à construir paredes, à amar a Gomeira.
Os olhos do meu avô eram acinzentados
Eram distantes e trágicos
E num dia, antes de partir
Falamos sobre as desventuras
O teor dos dias, o ato certo e imprevisto do florir.
Os olhos do meu avô eram completamente azuis
Eram um berço, eram infindos, sorriam
Hoje me pus à janela fitando o frio
- havia ali o traço de suas mãos, o rouco respirar -
Que certa vez me revelou,
Ser o silêncio um vital e sorrateiro emplasto,
responsável por manter o amor de um jeito simples, intacto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário